O diretor-presidente da Associação dos Cervejeiros Artesanais do Distrito Federal (Acerva Candanga), Zeca Reino, participa do festival Terraço Beer com palestras sobre Cerveja Caseira e Produção de Cerveja. Durante o evento, ele conversou com a Tribuna da Cerveja sobre os desafios do mercado cervejeiro e avaliou sua gestão à frente da associação. Confira a entrevista:
Como é a atuação da Acerva Candanga nesses festivais?
A Acerva participa dos principais acontecimentos da cidade que têm como objetivo divulgar a cultura cervejeira e fomentar essa cultura no Distrito Federal. Nossa associação, aliás, tem um calendário rico em atividades. Alguns são privados, seja na forma de palestras teóricas ou cursos de produção de cerveja. Nesta palestra da quinta, iria mostrar que é possível fazer a bebida em casa, inclusive num apartamento pequeno, aproximando-se dos rótulos mundialmente conhecidos. É um hobby, não uma atividade comercial. E o objetivo é fazer a cerveja para os amigos, com o intuito de degustar um bom produto. Já nesta sexta está prevista a palestra sobre produção de cerveja. Não temos como fazer uma produção real, que leva de cinco a seis horas. Faremos apenas a parte inicial, a preparação do mosto, quando colocamos o malte e alguns ingredientes, até porque, para fazer realmente uma cerveja, você precisa de um ambiente controlado. Por exemplo: existem casos de cervejarias que, quando mudaram de ambientes antigos para novos, colocaram pedaços da antiga fábrica revestidos de fungos, a fim de que a nova atmosfera ficasse “contaminada” com aqueles mesmos fungos e resultasse na mesma cerveja. Hoje é diferente, pois tudo é industrializado. Aqui no festival estamos num ambiente aberto, não temos como resfriar a cerveja e a levedura não gosta do calor. Vamos usar maltes mais velhos e água não filtrada, só mesmo para mostrar o processo de produção.
Brasília está tendo muito mais casas especializadas em cervejas especiais, além de diversos eventos cervejeiros. Como você está vendo o crescimento da cultura cervejeira na cidade?
Eu vejo como tendência, e não moda. Somos o quarto consumidor de cervejas no mundo e o brasileiro, até por conta do clima, gosta muito dessa bebida, dependendo do estilo. Temos opções de cervejas leves e refrescantes, que se assemelham um pouco às mainstream, mas são de qualidade bem superior e têm muito mais sabor e aroma. Por outro lado, temos também aquelas voltadas à alta gastronomia, harmonizando com ingredientes extremamente sofisticados. E temos público para degustá-las. Eu vejo como um mercado promissor, que tem tudo pra crescer. Apesar do cenário favorável, há um grande entrave em lugares como Brasília, devido aos altos impostos. A cerveja aqui é muito cara e acredito que não seja culpa dos estabelecimentos.
Aqui as pessoas vivem correndo atrás de promoções.
Exatamente. A gente acaba correndo atrás de promoções de cervejas que nem sempre estão com a qualidade ideal. As importadas, principalmente, chegam no limite da validade, já perdendo algumas de suas características, ou ficam oxidadas.
Conte um pouco de sua história como cervejeiro.
Um tio, já falecido, mostrou-me um livro sobre como fazer cerveja, quando eu tinha 8 anos de idade. Aquilo despertou minha curiosidade. Depois que entrei na universidade, comecei a tomar cerveja e ouvi falar que seria possível fazê-la em casa também. Antigamente, era difícil encontrar cursos na cidade; você tinha de correr atrás do professor. Hoje é bem mais fácil. Resolvi, então, tentar produzir a minha. Comecei com um grupo de amigos e comprei insumos e equipamentos por aqui mesmo, há uns 4 anos. Depois montei um kit no meu apartamento. É um espaço bastante reduzido, mas dá perfeitamente; é só se adequar. A brincadeira é tão legal, que você faz um dia na sua casa, outro dia na casa de outra pessoa. O primeiro estilo que produzi foi uma Dunkel, mas não deu muito certo. Depois fiz uma IPA, mas, atualmente, prefiro as Stout e Pale Ale inglesas.
Como avalia a sua gestão à frente da Acerva Candanga?
Minha gestão, juntamente com mais quatro diretores, acaba no final deste ano. Durante este biênio, tivemos um bom desempenho na associação. Saímos de 30 para 110 associados, um caixa expressivo e muitas atividades. Reunimos na diretoria um grupo muito a fim de fazer eventos e cursos. E como é um trabalho voluntário, é preciso ter esse pique, mesmo. Conseguimos recentemente, no concurso realizado no Rio de Janeiro, conquistar cinco medalhas com nossas cervejas. Não esperávamos este desempenho, pois nunca havíamos ganhado medalhas num concurso nacional. Então, está valendo a pena todo este esforço.
O Brasil já tem uma cultura cervejeira?
A cultura cervejeira no Brasil ainda não é muito consolidada, apesar dos avanços. A cerveja ainda é vista com maus olhos, como uma coisa viciante. Existe o risco do álcool, é lógico, quando mal administrado, e isto é muito sério. Mas existe também a forma de tornar a cerveja uma bebida sociável, como é em outros países que têm essa cultura. A ideia é degustar, e não “encher engradados”.
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