Associadas da Acerva Candanga e mesmo o presidente da Acerva Goiana rebateram algumas declarações de Zeca Reino proferidas durante o evento Terça Tem que, desta vez, ocorreu no Beco das Garrafas (116 Sul). O Tribuna da Cerveja mostra, agora, esse lado da história, até por uma questão de justiça e isenção jornalística.
Publicado na quarta-feira, o post sobre o Terça Tem deu o que falar, gerando comentários nas redes sociais. Um dos fatos que mais chamou a atenção envolveu o coletivo feminista ELA, que lançou, em Goiânia, uma American Barley Wine. Zeca Reino disse que as Acervas não foram avisadas oficialmente do evento.
A professora e associada da Acerva Candanga, Clarice Melo, que participou do lançamento da cerveja na capital goiana, no Quiosque Colombina, admite que o grupo realmente não fez um aviso formal às Acervas sobre a apresentação deste rótulo feito só por mulheres, mas todos ficaram cientes do acontecimento, de uma forma ou de outra. “A Patrícia, da cervejaria Colombina de Goiânia, entrou em contato com algumas mulheres cervejeiras daqui de Brasília (particularmente Tatiana Rotolo), chamando para organizar o lançamento da ELA em Goiânia. Cada uma de nós se envolveu com o projeto individualmente. Como o lançamento seria em outra capital, eu tive a iniciativa de falar sobre o projeto e o evento do dia 3 de setembro no Terça Tem de agosto, que aconteceu no Beer Selection, deixando em aberto o convite para que a Acerva Candanga se envolvesse de alguma maneira, nem que fosse marcando presença. Enfim, não era necessário nenhum contato oficial, mas eu fiz esse convite durante uma reunião, por uma questão de logística”, esclarece. “O mal-estar veio das brincadeiras que foram feitas por conta de nossa participação no evento e a própria existência do coletivo ELA”.
Tatiana Rotolo, também professora e membro da Acerva, confirma: “Antes e durante o evento, as meninas que se envolveram com a ELA foram vítimas de piadinhas desrespeitosas e deboche por parte de alguns membros da associação, gerando uma situação bastante desagradável”, afirma.
Ambiente machista
Clarice diz que o objetivo não era ter uma participação ativa da associação, mas acredita que um simples “parabéns” já funcionaria como apoio. “O que acontece, na prática, são homens desrespeitando as mulheres e se protegendo por trás da história de que ‘foi só uma brincadeira’”, analisa.
Para ela, o ambiente cervejeiro, não só do mercado mainstream, mas também das associações caseiras, ainda é muito machista. Isto acontece, por exemplo, segundo a professora, quando a consumidora vai ao bar tomar uma cerveja e duvidam de sua capacidade de escolha ou a dona de cervejaria que não é levada a sério. “O trabalho de mudança é muito difícil. Quando entrei no meio, imaginei que seria melhor justamente por ser um grupo menor e, desta forma, as colocações feministas seriam ouvidas com mais facilidade. Na prática, somos vistas como pessoas que querem criar confusão e gerar polarização”, declara.
Apoio dos goianos
Kanji Iwamoto Jr., presidente da Acerva Goiana, confirma que não houve convite oficial para o lançamento da cerveja produzida pelo coletivo feminista, mas não acha que isto tenha sido um problema. “Realmente, não formos convidados oficialmente, mas eu, particularmente, recebi convite do pessoal da Colombina, por ter amizade com eles. Até emprestamos o equipamento de brasagem para a Tati Rotolo [Tatiana Rotolo] produzir no dia”, informa. “Sobre o ‘mal-estar’, não vejo mesmo nada que possa constar do nosso lado!”. E acrescenta: “Reforço que qualquer evento cervejeiro que ocorra na região, tem nosso apoio, mesmo informal e não oficial, pois enriquece muito a nossa cultura goiana, ainda engatinhando no mundo das cervejas artesanais”.