Uma plateia formada majoritariamente por mulheres conferiu o beer talk promovido pelo grupo Däs Könfrädessäs, uma confraria cervejeira feminina. A palestra, que aconteceu no auditório da Livraria Cultura, abordou o papel da mulher e o machismo no setor cervejeiro. Este foi um dos destaques do Beer Week, festival de cervejas especiais que termina neste domingo, no shopping CasaPark.
Para a sommelière Andrea Sousa, que atua como representante comercial na Stadt Bier, as pessoas ainda estranham, quando veem uma mulher comandar degustações e treinamentos no setor. E lembra uma frase de Kathia Zanatta, uma das maiores referências, no país, do mercado cervejeiro: “Não sou homem, não sou velho e não tenho barriga”.
Clarice Melo, cervejeira de panela, acredita que as mulheres estão retomando um lugar que historicamente sempre ocuparam. “Durante séculos a cerveja integrava a alimentação da casa e a mulher era responsável pelo preparo”, afirma. “Na fase da industrialização da bebida as mulheres foram tiradas de cena. Hoje, vemos o crescimento da presença feminina, mas continuamos a enfrentar desafios, tanto como consumidoras, quanto como profissionais”.
A servidora pública Vanessa Rocha observa um machismo tão grande no meio cervejeiro que, muitas vezes, a mulher se sente mais confortável quando degusta um vinho. “É um mito achar que a cerveja foi feita para os homens. O que existe é gosto, abertura a novos sabores e texturas”, salienta.
Existe gênero no paladar?
Durante o beer talk, inclusive, foi muito discutida a questão do gênero no paladar. Para Clarice, não há que se pensar em cervejas feitas só para o público feminino e outras para o masculino. “Sabemos que não há essa diferença”, declara.
A título de exemplo, a cervejeira lembrou a iniciativa do coletivo feminista E.L.A (Empoderar. Libertar. Agir), que criou uma American Barley Wine, uma cerveja muito aromática, encorpada e com teor alcoólico de 10%. Clarice acredita que o paladar para bebidas mais fortes pode ser treinado, independentemente do sexo. E completa: “Uma de minhas cervejas preferidas é a Wäls Petroleum, uma Russian Imperial Stout com 12% de álcool”.
História da cerveja e harmonização
O sommélier Rodrigo Hosannah, sócio-proprietário da House of Beer – escola de cultura cervejeira, também fez uma breve palestra na Livraria Cultura, como parte da programação do Beer Week.
De um jeito didático e bem humorado, ele fez um passeio pela história da cerveja desde a Antiguidade, passando pela Idade Média, a Lei de Pureza Alemã (Reinheitsgebot), o surgimento da Pilsner, a descoberta da levedura e da pasteurização, até os dias atuais.
Rodrigo citou, ainda, as três grandes famílias cervejeiras onde estão abarcados todos os estilos: Lagers, Ales e Lambics. Por fim, falou brevemente sobre as principais características da harmonização e convidou os presentes a fazerem uma pequena experiência cervejeira. Todos puderam degustar uma pequena dose de cerveja Porter com chocolate.
Do vinho à cerveja
O servidor público Antônio Matoso, que é enófilo e formado como sommélier de vinhos, esteve no Beer Week para degustar alguns rótulos. Para ele, a grande vantagem de um evento como esse é a diversidade de cervejas e sabores. “Temos oportunidade de provar vários estilos e ainda ter contato com quem fabrica a bebida e detém o conhecimento do processo e ingredientes utilizados na produção”, observa.
Para ele, cada bebida tem o seu momento. “Meu almoço foi harmonizado com vinho e agora à tarde resolvi vir pra cá, para curtir o evento e provar algumas cervejas”, conta. “Aprecio até mesmo uma boa cachaça mineira, mas a vantagem da cerveja é ser mais democrática e acessível, além de ser perfeita para o nosso clima tropical”, conclui.