Apesar de toda a movimentação da arena principal, as degustações e harmonizações, sem dúvida, contribuíram fortemente para fazer do Piri Bier algo além de um festival.
Afinal, a cultura cervejeira não se resume apenas a experimentar ou lançar novos rótulos. Envolve também consumo responsável, valorização da gastronomia local, fomento aos pequenos produtores, entre outros fatores.
A harmonização de comidas sertanejas e cervejas artesanais, sob o comando do beer sommelier José Raimundo Padilha, trouxe todos esses elementos à tona.
No ambiente bucólico e histórico da Fazenda Babilônia, administrada cuidadosamente por Dona Telma Machado, os comensais fizeram uma viagem ao passado.
À mesa estavam receitas cuja tradição remonta há mais de dois séculos, combinadas com rótulos nacionais escolhidos primorosamente por Padilha. Tudo com o intuito de transformar a simbiose entre alimento e líquido numa verdadeira experiência cervejeira e gastronômica.
Arqueologia gastronômica
O beer sommelier conta que conheceu a Fazenda Babilônia durante o Piri Bier 2016 e, desde então, pensou em organizar, junto à Dona Telma, um evento de degustação e harmonização. “Esta fazenda é um verdadeiro monumento histórico e cultural. E esse café sertanejo oferecido aqui é uma verdadeira arqueologia gastronômica”, pontua Padilha.
“Nasci aqui e meu café é parte dessa história”, frisa Dona Telma, cujo bisavô fundou a Fazenda Babilônia. “A pessoa não é obrigada a gostar do que é oferecido na fazenda, mas faço questão de manter a comida a mais original possível. Não posso mudar receitas de mais de 200 anos”, ressalta.
Cardápio especial
De fato, ninguém é obrigado a gostar de uma receita. Mas, verdade seja dita: os pratos são de comer rezando! Confira, abaixo, o cardápio servido no evento:
– Matula de galinha: feita de carne de galinha caipira moída, toucinho moído, açafrão, pimenta bode, ovos e farinha de milho caseira. Assada no borralho (cinzas). A matula era uma espécie de “marmita” colonial, muito usada pelos tropeiros para guardar a comida por longos períodos.
Harmonização: Colombina Pepper Lager (Premium American Lager com adição de pimenta bode).
– Paçoca de carne seca: feita de carne seca frita, açafrão, pimenta bode e farinha de mandioca. Os ingredientes são socados no pilão.
Harmonização: Coruja Labareda (Keller Bier com adição de extrato de pimenta).
– Almôndegas: preparadas com a tradicional “carne de lata”, forma antiga de armazenamento, em que a carne é guardada na própria gordura em que foi frita. Ingredientes: carne de vaca e toucinho de porco moído.
Harmonização: Roleta Russa IPA.
– Trouxinha da Sinhá: historicamente, é um tipo de doce produzido pelas escravas para suas senhoras (“sinhás”) nos engenhos de cana. Ingredientes: coalhada azeda, fubá de milho e abóbora madura.
Harmonização: Preto Véio (Russian Imperial Stout colaborativa das cervejarias Bier Hoff e Karavelle). O amargor da torrefação do malte contrasta com a doçura do prato.
– Pau-a-pique: receita típica indígena, uma variação do beiju, feita de mandioca seca, queijo ralado, coco ralado, leite de covo, ovos e manteiga. Assada na folha de bananeira.
Harmonização: Colombina Poema au Chocolat (Imperial Stout).