Um evento cervejeiro pode ser, simplesmente, uma festa com fartas opções de estilos e sabores de cervejas. Mas o Piri Bier 2017 foi muito além disso. A arena onde estavam montados os estandes foi apenas a ponta do iceberg de um festival que contemplou várias frentes.
Palestras, degustações e harmonizações estavam acontecendo em diversos locais, transformando Pirenópolis, ainda que por poucos dias, na capital nacional da cerveja.
Copa Piri Bier
O festival aconteceu entre 20 e 23 de abril, mas já no início da semana, alguns dos maiores nomes do cenário cervejeiro nacional já estavam no município goiano.
No dia 18 de abril, o chef Ronaldo Rossi – proprietário da Cervejoteca e professor do curso de formação de sommeliers do Senac/Doemens – ministrou a palestra Respirando e bebendo um universo de cervejas, na Universidade Estadual de Goiás (UEG).
Já no dia 19, aconteceu uma nova palestra, desta vez com o fundador da Escola da Cerveja, Marcelo Scavone, que falou sobre o laboratório de cervejas da UEG.
Também na mesma data, um júri seleto avaliou as amostras de cervejas caseiras produzidas para a 1ª Copa Piri Bier. Os vencedores do concurso foram anunciados durante o festival.
O grande campeão foi Andre Kopper, de Goiânia (GO), que levou um cheque de R$ 500 – valor a ser revertido na compra de insumos cervejeiros –, uma chopeira e, ainda, a produção de 2 mil litros de sua receita, uma Saison, na Cervejaria Goyaz, onde são feitos os rótulos da Colombina.
Arena lotada, com chuva ou sol
A arena do Piribier permaneceu lotada durante os quatro dias de atividades, especialmente à noite, com os shows da banda brasiliense On the Rocks, da goiana Venosa e do ex-Titãs Arnaldo Antunes, que fechou a programação.
Nem a forte chuva da sexta-feira afastou o público, mas obrigou os organizadores a abrirem os portões mais tarde que o previsto. Nos outros dias, para a felicidade dos cervejeiros, o sol reinou absoluto.
Nos estandes, mais de 200 rótulos, sendo 10% da região Centro-Oeste, foram disponibilizados. Representaram a capital federal as cervejarias ciganas Cerrado Beer, Micro X, Corina, Criolina e a novíssima Metanoia, que apresentou sua primeira criação, a Witirica, uma Witbier com mexerica e coentro.
Para o cervejeiro André Braga, da Cerrado Beer, estreante no Piri Bier, o evento cumpriu com as expectativas. “Foi tudo muito bem organizado e a cidade esteve bastante movimentada”, elogia.
Os rótulos da marca – Caliandra (Vienna Lager) e Tamanduá Bandeira (Hop Brown Ale) – estavam à venda no estande Toca do Cerrado, que também ofereceu os chopes Witirica, da Metanoia; e Criolipa (American IPA) e Aparelhinho (Premium American Lager), da Criolina.
Lazer e brassagens
Entre uma cerveja e outra, era possível posar de dublê de Robin Hood e arriscar uma flechada no estande de arco e flecha, enquanto a criançada se divertia no espaço kids.
Após os shows musicais, já de madrugada, alguns mais resistentes driblaram o sono para conferir as lutas de muay thai, em ringue montado no evento especialmente para os duelos.
As brassagens coletivas com a participação de alunos da UEG e várias cervejarias, como Bastards, Blumenau, Colombina e Santa Dica, foram outros bons momentos da programação.
Cerveja e gastronomia
Quem pôde participar das palestras e degustações harmonizadas teve uma experiência diferenciada do universo cervejeiro. Já na sexta-feira, dia 21, a beer sommelière Carolina Oda, colunista do jornal O Estado de São Paulo, comandou um almoço japonês no restaurante Haikai, harmonizado com cervejas artesanais.
O também sommelier José Raimundo Padilha, por sua vez, esteve à frente de duas degustações. Uma delas, na Cervejaria Santa Dica, trouxe os rótulos da marca harmonizados com queijos da Queijaria Alpina e quitutes regionais criados pela chef Saforah.
A outra, realizada na Fazenda Babilônia, a 24 quilômetros de Pirenópolis, trouxe receitas tradicionais, de mais de dois séculos de história, combinadas com cinco rótulos brasileiros. Veja mais detalhes em matéria especial, aqui no Tribuna da Cerveja.
Já o sommelier Anderson Machado propôs a degustação de quatro cervejas, representando cada uma das escolas cervejeiras. Os participantes puderam degustar a Eisenbahn Weissbier (escola alemã), Bierland Pale Ale (escola inglesa), MJ Pale Ale (escola americana) e Duvel (escola belga). O workshop Estilos e Escolas Cervejeiras aconteceu no bar Êiou, na Vila dos Mouros.
Cervejas e gênero
Vale mencionar, ainda, o evento Cerveja é coisa de mulher! Cervejas extremas!, comandado pelas sommelières Marta Ibañez, Carolina Oda e Deborah Perigo, coordenadora de produção da Colombina.
A degustação orientada, feita no bar Êiou, trouxe os rótulos JabutiGose, da Way Beer (Sour com jabuticaba – 3,5% de teor alcoólico); Weihenstephaner Vitus (Weizenbock com 7,5% de álcool); IPA D’Ellas, da Benedith (Imperial IPA – 8,1% ABV); Roleta Russa Black IPA (6,9% ABV); Colombina Romaria – considerada a mais extrema da marca, uma Belgian Dark Strong Ale com 9% de álcool – e DUM Petroleum (RIS com aveia e cacau – 12,5% de teor alcoólico).
A ideia foi provocar um saudável debate sobre se realmente há cervejas mais voltadas ao paladar masculino ou feminino. Segundo Carolina, existe a questão cultural, que pode influenciar a percepção individual. “Há uma teoria que diz que as mulheres, em geral, são mais expostas a aromas e sabores adocicados, a começar pelos cosméticos”, exemplifica.
Isto não quer dizer, no entanto, que a mulher não vá gostar de bebidas mais amargas. Pelo contrário, de acordo com as sommelières, é tudo uma questão de costume e o mercado cervejeiro artesanal é prova do quanto o público feminino aprecia o consumo de rótulos mais amargos e alcoólicos.
Para as especialistas, mesmo os homens sofrem preconceito, principalmente se resolvem consumir brejas ou drinks mais adocicados ou frutados. E quebrar esses paradigmas nem sempre é fácil.
Durante o bate-papo, houve a discussão sobre se o Brasil pode se tornar, futuramente, uma escola cervejeira. “Falta muito para chegarmos lá, pois a preocupação ainda se atém muito ao líquido e pouco para os diversos aspectos em torno da produção, como a sustentabilidade, por exemplo”, pontuou Carolina.
Sucesso absoluto
O idealizador do Piri Bier, Ricardo Trick, avaliou positivamente esta quinta edição do evento: “Foi sucesso absoluto. Os expositores venderam bastante e tivemos um público de altíssimo nível. Não houve brigas ou confusões. Só tenho mesmo que comemorar”.
Segundo ele, os próprios comerciantes de Pirenópolis ficaram satisfeitos, principalmente pelo fato do Piri Bier ter atraído um número expressivo de turistas ao município, movimentando a economia local.
Carlo Lapolli, da Cerveja Blumenau, considerou o evento bem organizado e ficou impressionado com o potencial do Centro-Oeste na produção de bons rótulos.
Durante o Piri Bier, ele ministrou a palestra Cervejeiros caseiros entrando no mercado – Desafios e oportunidades. “A hospitalidade do povo goiano é incrível. No festival, vimos ótimas cervejas e muita gente interessada em experimentar rótulos e estilos diferentes”, diz. “Nossa intenção é que a Cerveja Blumenau esteja com um estande no próximo ano”.
Já em sua página no Facebook, Lapolli afirma que o Piri Bier é um encontro obrigatório para quem ama a boa cerveja. “Voltei com um sentimento de querer mais, de logo estar de volta à cidade. Aos amigos que não conhecem, pesquisem sobre o local e vejam como é rico o nosso Brasil. Só posso afirmar que já estou ansioso pelo #Piribier2018. Um brinde à cerveja artesanal brasileira”.